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A dor do fotógrafo brasileiro.

  • Foto do escritor: Mauricio Daher
    Mauricio Daher
  • há 12 minutos
  • 2 min de leitura

Ser fotógrafo no Brasil é carregar a câmera numa mão e a resistência na outra.


Não é apenas dominar luz, enquadramento ou pós produção.


É aprender a sobreviver em um país onde o mercado criativo oscila, a valorização cultural é instável e o sol pode arruinar um ensaio inteiro enquanto o cliente pede um milagre no prazo.


A dor do fotógrafo brasileiro começa cedo.


Ela aparece quando o equipamento custa mais caro que o aluguel, quando o sonho enfrenta impostos, quando a bateria extra não cabe no orçamento e quando uma lente nova parece um luxo inalcançável.


O profissional sente essa dor toda vez que compara a própria realidade com a de fotógrafos de fora que pagam menos, ganham mais e têm acesso facilitado à tecnologia.


Depois vem a batalha diária. Trabalhar em locações sem estrutura, lidar com calor extremo, chuvas repentinas e sombras duras em horários que não colaboram.


Entregar fotos impecáveis mesmo quando nada no ambiente foi favorável. É transformar caos em estética. É transformar pressão em técnica.


E existe uma dor que só quem vive no Brasil entende. A burocracia. Locações que exigem autorização até para pisar, parques que cobram para fotografar, espaços públicos que tratam a câmera como ameaça.


Muitas vezes o fotógrafo precisa pagar para trabalhar.


Precisa explicar, justificar, pedir permissão, enviar documentos.


Tudo isso para fazer o próprio ofício.


É uma contradição que machuca porque limita a criatividade, encarece o trabalho e atrasa projetos que poderiam fortalecer ainda mais a cultura visual do país.


Outra dor constante é a desvalorização. A ideia de que fotografia é simples, rápida e substituível. Que basta apertar um botão. O fotógrafo brasileiro convive com isso desde o primeiro orçamento enviado até o último clique de cada trabalho. E mesmo assim entrega arte, memória, emoção e identidade.


Mas dentro dessa dor existe algo único. O fotógrafo brasileiro aprende cedo a ser criativo com pouco, a improvisar com elegância, a transformar uma parede comum em cenário e uma luz difícil em assinatura.


Nossa dificuldade gera estilo. Nossa luta alimenta técnica. Nosso mercado irregular forma profissionais resilientes, inteligentes e capazes de criar beleza mesmo onde ela parece não existir.


A dor do fotógrafo brasileiro não é apenas sobre sofrer. É sobre resistir, evoluir e criar.


É sobre continuar acreditando naquilo que os olhos veem e o coração insiste em registrar.


É sobre transformar a própria dor em inspiração, porque nenhum país produz fotógrafos tão adaptáveis, inventivos e apaixonados quanto o Brasil.


Talvez seja justamente isso que faz a nossa imagem ser tão forte.


Aqui cada clique tem história, cada trabalho tem batalha e cada fotografia carrega um pouco da alma de quem lutou para fazê-la existir.


A dor do fotógrafo brasileiro

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Por Mauricio Daher

Fotógrafo e Professor de Fotografia da FOTO | CONCEITO



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