Filtro UV em Lentes Fotográficas: Verdade, Mito e Boas Práticas

Mauricio Daher
13 de out.
4 min de leitura

Durante muito tempo, o filtro UV foi tratado como um item obrigatório para qualquer fotógrafo.

Nas lojas, era vendido quase como um seguro: “coloque o filtro e sua lente estará protegida”.

Mas será que isso é verdade? O filtro UV é realmente um protetor?

A resposta é: sim e não.

Ele pode proteger fisicamente, mas não foi feito para isso. Entenda por quê.

A origem do filtro UV: proteger o filme, não a lente

Nos tempos da fotografia analógica, o filtro ultravioleta (UV) tinha uma função real: bloquear os raios UV, invisíveis a olho nu, mas que afetavam o filme fotográfico.

Em regiões de altitude elevada ou sob sol intenso, esses raios produziam tons azulados e perda de contraste nas imagens.

O filtro UV corrigia exatamente isso.

Era uma solução óptica, não um escudo de proteção física.

A era digital mudou tudo

Nas câmeras digitais modernas, os sensores já vêm com um filtro UV embutido, o chamado filtro de corte IR/UV.

Isso significa que a função óptica original desapareceu.

Mesmo assim, o mercado continuou vendendo o filtro UV, agora com um novo argumento: “serve para proteger a lente”.

E é aqui que mora o mal-entendido.

Proteção física x qualidade óptica

O vidro do filtro UV pode servir como uma barreira física contra poeira, riscos, respingos e toques acidentais.

Mas ele também é um elemento a mais no caminho da luz, e isso pode interferir na nitidez, no contraste e até no foco.

Filtros baratos, com vidro comum ou revestimento fraco, provocam reflexos indesejados (flares), perda de contraste em contraluz, fantasmas de luz em shows e eventos noturnos, e até dificuldade de foco em ambientes muito iluminados.

Em outras palavras: um filtro ruim pode prejudicar mais do que proteger.

Como saber se o filtro UV é ruim?

Um bom indicativo é o preço e a procedência.

Um filtro UV de boa qualidade dificilmente custa menos de R$200,00, mesmo nas versões mais simples.

Filtros muito baratos costumam usar vidro comum e não possuem tratamento antirreflexo, o que pode prejudicar a nitidez, gerar flares e alterar o contraste da imagem.

Além disso, tome muito cuidado com as falsificações.

Há muitos filtros falsos no mercado, especialmente em sites de importação, e muitos são cópias de marcas conhecidas, mas com vidro de baixa qualidade e roscas frágeis.

Sempre compre de lojas ou revendedores confiáveis e desconfie de preços “bons demais para ser verdade”.

Quando usar (e quando não usar)

O uso do filtro UV, ou de um protetor, depende do ambiente:

Situação	Usar filtro?	Motivo
Praia, areia, vento forte	Sim	Protege contra partículas abrasivas
Esportes, chuva, lama, shows	Sim	Bloqueia respingos e sujeira
Estúdio, retratos, ensaios internos	Não	Diminui contraste sem necessidade
Fotografia noturna e contra-luz	Não	Pode gerar reflexos e flare
Lentes de alto valor (Canon L, Nikon S, Sony G Master)	Sim, mas com filtro óptico premium	Preserva sem degradar a imagem

As alternativas modernas: filtros Clear e Protector

As grandes marcas como Canon, Nikon, Hoya, B+W, Marumi e Tiffen substituíram o antigo UV por versões modernas chamadas Clear ou Protector.

Esses filtros não interferem na luz nem bloqueiam raios UV.

Servem exclusivamente para proteção física, com vidro óptico de altíssima transparência e revestimento antirreflexo.

Em resumo: se quiser proteger sua lente, use um Protector de boa qualidade, não um filtro UV genérico.

Filtro ruim x bom filtro: a diferença está na óptica

Um filtro barato adiciona vidro comum e causa distorções.

Um filtro profissional utiliza vidro óptico plano, polido e tratado.

A diferença se vê na prática: o filtro barato cria véu de contraste; o bom filtro é praticamente invisível à lente.

Por isso, evite filtros de marcas genéricas.

Prefira linhas como:

Hoya HD
B+W MRC
Canon Protect
Nikon NC
Sigma WR
Marumi EXUS

O para-sol: o protetor mais eficiente e esquecido

Poucos fotógrafos percebem, mas o para-sol, aquele acessório em forma de tubo ou flor que se encaixa na frente da lente, é uma das melhores formas de proteção que existem, tanto óptica quanto física.

Ele atua como um escudo natural contra impactos leves: quedas, batidas acidentais, portas, cotovelos de convidados em eventos.

Evita que gotas de chuva, respingos e poeira atinjam o vidro frontal.

Em muitos casos, o para-sol absorve o impacto e literalmente salva a lente.

Além disso, o para-sol também protege a imagem.

Ele reduz reflexos indesejados e flares causados por fontes de luz lateral (Sol e artificial também), melhora o contraste e a saturação e é essencial em fotografias sob luz forte ou direcional.

Por isso, o ideal é usar sempre o para-sol original da lente, projetado sob medida para o ângulo de visão daquela objetiva, sem causar vinheta ou sombra.

Filtro ou para-sol?

Em resumo: O filtro UV ou Protector protege contra sujeira e arranhões frontais. O para-sol protege contra impacto e luz indesejada.

Juntos, formam o par perfeito: proteção física e performance óptica.

Mas, se for escolher apenas um, o para-sol é mais útil e eficaz, além de não degradar a imagem, já que não adiciona nenhuma camada de vidro entre o mundo e sua lente.

O que realmente protege a lente?

Mais do que qualquer filtro, o que protege a lente é o cuidado do fotógrafo:

Usar a tampa sempre que possível.
Evitar trocar lentes em ambientes com poeira ou vento.
Transportar em bolsa acolchoada.
Limpar com flanela de microfibra e ar comprimido.
Nunca soprar com a boca, pois a saliva contém ácido.
Em muitos casos, a melhor proteção é a tampa da lente e o bom senso.

Conclusão: proteção com consciência

O filtro UV não nasceu para proteger lentes, mas acabou adotado como escudo físico e cumpre bem esse papel quando é de qualidade.

Em ambientes hostis, ele vale o investimento. Mas em situações controladas, é dispensável e até prejudicial.

A escolha correta é equilibrar segurança, qualidade óptica e propósito da foto.

Fotografar com consciência técnica é sempre melhor que seguir mitos antigos.

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