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Lucas Fiore

Desejo comprar equipamentos, e agora?

Atualizado: 1 de nov. de 2023

Os fotógrafos americanos brincam muito sobre a famigerada “GAS” (“Gear Acquisition Syndrome”, ou traduzindo para o português, Síndrome da Aquisição de Equipamentos). Obviamente não é uma doença real, mas descrevem como uma condição que leva a pessoa a nunca estar completamente satisfeita com os equipamentos que tem, e tem necessidade compulsiva de adquirir novos equipamentos.

Todo fotógrafo tem um pouco desse sentimento dentro de si, principalmente por conta dos lançamentos constantes de produtos, em um mercado que tem muita concorrência e muito marketing. Contudo, sabemos que a vida real é mais complexa. Os equipamentos são muito caros nos tempos atuais da moeda Real desvalorizada e de falta de chips semicondutores no mercado internacional. Sendo assim, a compra de um novo equipamento, principalmente para o brasileiro, é uma decisão que precisa ser extremamente ponderada.

Dito tudo isso, vamos supor que uma pessoa realmente queira ou precise comprar equipamentos. Neste caso, as opções são inúmeras. São diversas marcas brigando pelo consumidor. Existem muitas fontes de informações, algumas idôneas (como o meu querido DPREVIEW e o extremamente objetivo Gerald Undone), e algumas com claro conflito de interesse (eu particularmente evito levar muito em consideração informações de embaixadores das marcas, ou de fotógrafos que só revisam uma marca).

Neste texto, vou tentar facilitar um pouco o fluxo de pensamento. Vamos por partes.

1- Mirrorless versus DSLR

Não é uma decisão tão óbvia quanto parece inicialmente. Mirrorless é a tecnologia mais recente, conta com amplo investimento atual dos fabricantes. Seus pontos fortes são: equipamentos em geral mais leves, sistemas superiores de autofoco (considerando equipos de mesmo perfil), e a prévia da imagem no visor aparece exatamente da maneira que estará no arquivo digital. DSLR é a tecnologia mais consagrada. São sistemas sólidos, duráveis, consolidados (principalmente os da categoria profissional). A bateria tem duração muito superior aos sistemas mirrorless. E o ponto mais interessante é que é possível encontrar bons equipamentos usados, principalmente nesta era em que muitos fotógrafos estão migrando para sistemas mirrorless. Em resumo, ambos os sistemas tem capacidade para documentar belas imagens quando combinados com um fotógrafo talentoso.

É importante lembrar, contudo, que só uma marca ainda está investindo na tecnologia DSLR (a Pentax lançou a K3 Mark III no mês de Abril de 2021). Também acho importante ressaltar que no quesito equipos de entrada, os mirrorless parecem conter mais recursos que os DSLR da mesma categoria. De todos os fatores, a ergonomia é o que mais tem sido levado em conta para fotógrafos profissionais realizarem a migração do sistema (muitos fotografam eventos com horas de duração, vários dias da semana, e um equipo mais leve faz toda a diferença).

2- Qual marca comprar?

É uma dúvida muito “cruel”. O mantra “Ao comprar um equipo, você casa com esse sistema” é muito válido. Precisará investir em objetivas específicas para ele. Se decidir mudar no futuro, há o risco de grande prejuízo. As duas marcas que mais investem no mercado brasileiro atualmente, e tem estrutura de atendimento e reparo são a Canon e a Fujifilm. Ambas tem equipos fantásticos e objetivas muito competentes. A Fujifilm investe na linha APS-C, com qualidade de imagem que chega muito próxima da linha Full Frame dos concorrentes, e com equipos mais leves, que agradam muito os fotógrafos profissionais. Canon tem equipos e objetivas para todos os orçamentos e níveis de fotógrafos.

Nikon e Sony já tiveram revendas oficiais no Brasil, que foram fechadas. Se a pessoa tem acesso ao mercado internacional (por exemplo, se realiza viagens esporádicas para o exterior), aí já é possível considerar estas e outras marcas (como por exemplo Pentax/Ricoh, OM Solutions e Panasonic). Mas é importante saber que se o equipo apresentar mal funcionamento, talvez não haja uma autorizada de fácil acesso para reparo.

Outra observação: se deseja utilizar o equipo também para vídeo, é interessante escolher um que tenha entradas para microfone e fone de ouvido, e que não apresente problemas de aquecimento do processador.

3- Objetivas.

Para investir tanto em equipos como em objetivas, é interessante ter uma certa experiência, para entender as necessidades reais, e não investir em itens que em última instância ficarão acumulando pó no armário. Existem os fotógrafos que preferem utilizar objetivas fixas, que normalmente são mais compactas e tem aberturas de diafragmas maiores. Eu particularmente estou nesta categoria. Existem fotógrafos que preferem objetivas com distância focal variável (“zoom”), pois são mais versáteis. Estas objetivas normalmente são mais pesadas e maiores, por terem fórmula óptica mais complexa. Em termos full frame, as distâncias focais mais consolidadas são 24mm, 28mm, 35mm, 50mm e 85mm (em fotografia esportiva e de natureza, utiliza-se distâncias maiores como 400mm, 600mm, 800mm). As distâncias zoom mais sacramentadas são 14-35mm, 27-70mm (ou 24-105mm) e 70-200mm. Alguns fabricantes distribuem distâncias focais menos comuns, como a TAMRON 25-75mm, que também podem ser bem interessantes.

Em relação à marca, as objetivas da mesma marca do fabricante do equipo costumam ser as mais confiáveis, porém na maioria das vezes tem preço mais elevado. Uma excelente saída são os fabricantes terceiros, sendo os dois mais famosos em termos de custo-benefício a Sigma (com ênfase para a excelente linha ART) e a Tamron. Existem outros fabricantes, que são mais heterogêneos (fabricam objetivas excelentes e objetivas medianas). Sempre investigue múltiplas referências antes de investir. Se possível, alugue ou pegue emprestado a objetiva para tomar a decisão final.

Ainda sobre objetivas, é importante ressaltar algumas distâncias focais sacramentadas com base no tipo de fotografia (lembrando que é válido quebrar regras, desde que com conhecimento teórico e intenção clara). Arquitetura (principalmente ambientes interiores) utiliza grandes angulares (10-28mm). Fotografia de Rua utiliza distâncias um pouco maiores que a grande angular (24mm, 28mm, 35mm, 40mm e 50mm). Em retratos, utiliza-se teleobjetivas (50mm, 85mm, 200mm) e eventualmente grande angular para destacar o ambiente. Para alimentos, fotos de alianças e outros detalhes, pode-se agregar uma objetiva Macro. Para eventos, muitos fotógrafos utilizam dois equipos, um deles com uma grande angular (ex: 28mm) e o outro com o uma tele-objetiva (ex: 50 ou 85mm).

4- Acessórios.

Alguns acessórios clássicos são: flash externo, tripé, filtros, alça, mochila, cartões de memória. Para o flash, o raciocínio é semelhante ao da objetiva. Melhor utilizar o da marca do equipo, mas se quiser custo-benefício, a marca chinesa Godox é uma excelente opção. Para tripé, a opção mais ergonômica são os de fibra de carbono (existem também alguns tripés pequenos muito resistentes). Se for utilizar para vídeo, importante escolher um que tenha alavanca de fácil manuseio. Filtros são mais importantes para vídeo, mas ocasionalmente alguns fotógrafos gostam de tirar fotos com exposição lenta pelo efeito artístico. No meu caso, os filtros ficam sempre na mochila e raramente utilizo. Recomendo alça que chame menos a atenção do equipo (a alça que costuma vir com os equipos tem o nome do fabricante estampado de maneira muito chamativa). Para mochila, é legal escolher uma que faça sentido para suas necessidades, e que também seja menos chamativa. Cartão de memória merece um investimento um pouco maior, pois o pior sentimento possível é perder as fotos por conta de mal funcionamento do cartão. O cartão tem algumas marcações específicas (eu compro se possível V60 ou V90, que refere-se à velocidade mínima de transferência dos dados). Prefiro comprar cartões de 16 ou 32gb, para não perder tantas fotos caso algum deles estrague. Para lazer, uma marca com bom custo-benefício é a Lexxar. Para trabalho, vale considerar Sony e Sandisk. Cuidado com falsificações!

5- Equipamentos novos versus usados.

É possível encontrar incríveis pechinchas no mercado de usados. Nos Estados Unidos, onde é comum devolver produtos, é possível encontrar equipamentos que nunca foram utilizados com 20% de desconto em relação ao preço original, simplesmente por estarem abertos. Existem inúmeras opções no Mercado Livre e algumas lojas especializadas nos grandes centros urbanos. No caso de equipos, sempre verificar o contador de cliques (lembrem-se que o obturador do equipo tem vida útil). No caso de objetivas, verificar principalmente se o autofoco está funcionando adequadamente e se tem fungos nos elementos (tem muitas imagens na internet para referência). Sendo assim, vale a pena comprar somente em lugares que revisem os equipamentos (mesmo que isso aumente um pouco o valor), ou em lugares que se possa devolver no caso de defeito. Outra dica é não ter ansiedade. Acompanhe semanalmente, até surgir uma oferta boa. Se viajar à NYC, não deixe de conferir o setor de usados da B&H. Nos Estados Unidos também tem uma loja famosa de usados, chamada KEH. Ambas revisam com seriedade os equipamentos antes de colocar à venda.

No Brasil, na Rua Conselheiro Crispiniano com a Rua 7 de Abril (em frente ao Teatro Municipal) tem várias lojas que vendem equipos usados revisados e até com garantia.

6- Seguem algumas opções de equipos a se considerar por fabricante. Ressalto que não são as únicas opções, mas são opções populares muito interessantes:

CANON (APS-C e Full Frame)

Iniciantes DSLR: T5i, T6i, T7i, T8. Existem profissionais usadas com bom custo-benefício, como a 5D mk I e mk II.

Iniciantes Mirrorless: M50 mark II, R10.

Entusiasta DSLR: 90D, 6D mk II, 7D mark II.

Entusiasta Mirrorless: M6 mk II, R7, RP, R.

Profissional DSRL: 5D mk IV.

Profissional Mirrorless: R6, R5, R3.

FUJIFILM (APS-C)

Iniciantes Mirrorless: XT-200

Entusiasta Mirrorless: XT-30, X-S10, X-E4, X100F, X100V, X-T2

Profissional Mirrorless: X-pro2, X-pro3, X-T3, X-T4

NIKON (APS-C e Full Frame)

Iniciante DSLR: D3500

Entusiasta DSLR: D500

Entusiasta Mirrorless: Zfc, Z50, Z5

Profissional DSLR: D850, D6

Profissional Mirrorless: Z6 mk II, Z7 mk II, Z9

SONY (APS-C e Full Frame)

Iniciante Mirrorless: a6000

Entusiasta Mirrorless: a6100, a6400, a6600, a7II, a7C

Profissional Mirrorless: a7III, a7IV, a9 mark II, a1

PANASONIC (M4/3 e Full Frame)

Iniciante Mirrorless: G85

Entusiasta Mirrorless: GX9, S5

Profissional Mirrorless: G9, S1

OLYMPUS (M4/3)

Iniciante Mirrorless: Pen E-PL10, EM 10 Mark II/III/IV

Entusiasta Mirrorless: EM5 Mark III, Pen-F

Profissional Mirrorless: EM1 mark III, EM1X

MÉDIO FORMATO (muito caras, específicas para alguns tipos de trabalho profissional)

Fujifilm, Pentax, Hasselblad e Phase One.

Espero que estas informações sejam de alguma maneira úteis. Aguardo vocês nas saídas fotográficas.

Desejo comprar equipamentos, e agora?

Nota sobre o autor: Lucas Fiore fez seu primeiro curso na Foto Conceito em 2018 (básico + avançado). Desde então, já cursou os módulos de Flash, Book, Percepção Fotográfica e Vídeo, além de participar de dezenas de saídas fotográficas da escola. Tem em sua coleção particular muitos livros autorais dos seus fotógrafos prediletos, incluindo William Eggleston, Cartier Bresson, Robert Frank e Alex Webb. Iniciou sua prática com uma Canon T5i. Em seguida, sentiu que precisava de mais recursos e mudou para a Canon 80D. Em 2019, comprou seu primeiro equipo Mirrorless (M4/3), e desde então não voltou atrás. Hoje utiliza três equipos M4/3 (Olympus OMD EM10 Mk III, Panasonic GX9 e Panasonic G9, este último de maneira híbrida). Suas objetivas prediletas, para o sistema que usa (M4/3), são a Panasonic Leica 15mm 1.7 e a Panasonic Leica 25mm 1.4. Utiliza também a Ricoh GR II e a Pentax Q (equipos muito compactos, sendo o último a menor câmera de lentes intercambiáveis do mundo).


*As opiniões deste texto não necessariamente refletem as opiniões da escola.





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