A era do olhar imperfeito: por que as fotos com ‘defeitos’ estão conquistando o mundo
- Mauricio Daher

- 5 de nov.
- 2 min de leitura
Durante muito tempo, a fotografia foi movida pela busca da perfeição.
Nitidez extrema, cores precisas, exposição impecável, lentes caríssimas.
A imagem “correta” era sinônimo de profissionalismo. Mas algo mudou. E mudou profundamente.
Nos últimos anos, vivemos uma revolução silenciosa: a da imperfeição estética.
Fotos tremidas, flash direto, desfoques involuntários, granulação, cores lavadas, balanço de branco errado, tudo aquilo que antes era considerado erro passou a ser linguagem.
O retorno do erro como expressão
Nas redes sociais, um movimento cada vez mais forte resgata o visual das câmeras digitais dos anos 2000, das compactas Kodak e das bridge antigas.
Jovens criadores buscam nelas uma estética que transmite espontaneidade e verdade, em oposição à hiperedição dos smartphones.
Essas imagens têm alma. São imperfeitas, mas cheias de presença. Mostram o instante como ele foi, não como o algoritmo quer que pareça.
Fotógrafos experientes também redescobriram o prazer de se libertar da técnica excessiva. Deixar o acaso participar da imagem. Permitir que a luz estoure um pouco, que o foco escape, que o ruído se manifeste. Afinal, é nesses desvios que mora a autenticidade.

Menos controle, mais verdade
A fotografia digital amadureceu. Depois de duas décadas de obsessão por megapixels e nitidez, ela começa a reencontrar sua humanidade.
O olhar contemporâneo já não quer apenas ver, quer sentir. E, para sentir, precisa de imperfeições.
O erro, quando intencional, se transforma em assinatura. É o que separa uma foto comum de uma foto com identidade.
A estética do imperfeito é também uma crítica
Essa tendência é mais do que uma moda visual, é uma reação cultural.
É o público dizendo “basta” às imagens plastificadas e previsíveis. É o fotógrafo redescobrindo o prazer do real.
Quando um criador escolhe usar uma câmera antiga, uma lente arranhada ou um flash estourado, ele está também fazendo uma declaração:
“Prefiro o instante verdadeiro ao arquivo perfeito.”

O futuro é vintage?
Na FOTO | CONCEITO, temos observado essa transformação de perto.
Muitos alunos voltaram a fotografar com câmeras antigas, e o resultado é fascinante.
A limitação técnica obriga o olhar a ser mais criativo, e isso muda tudo.
A cada clique “imperfeito”, nasce uma imagem mais viva, mais sincera, mais humana.
Talvez a nova era da fotografia não seja sobre dominar a tecnologia, mas sobre reaprender a errar com propósito.
E esse pode ser o maior acerto de todos. Quem sabe.
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A era do olhar imperfeito: por que as fotos com ‘defeitos’ estão conquistando o mundo
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A era do olhar imperfeito: por que as fotos com ‘defeitos’ estão conquistando o mundo
Mauricio Daher
Fotógrafo e Professor de Fotografia
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